quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Longe

"...dizem que a vida é assim
cinco sentidos em mim..."
[Arnaldo Antunes]




Onde você está agora?

Parece uma pergunta simples de se responder ou pensar, mas não é.


Pense bem. Onde está você?

Eu poderia dizer que estou muito bem sentada numa cadeira em frente a tela que me permite enxergar o que digito a você neste exato momento. Mas que ironia, esse você sou eu. Isso mesmo. Isto é um diário. Então vamos deixar de papo e responder à pergunta: Onde você está, moça?

Enrolação. 
Típico de quem não sabe o que responder.


Mas no fundo, eu acho que sei:


Eu estou num carrossel, daqueles enormes, com cavalinhos e até espaço pra carruagem que sobe e desce atrás do cavalinho. As luzes são todas bem coloridas, vez ou outra elas piscam, e meus olhos brilham com elas. Mas como todo emprego, existe um momento de escuridão onde todas as luzes se apagam para não atrapalhar o sono dos que permanecem por lá.


Um carrossel? Que egocêntrica não?
Não.


Apesar de muitos pensarem que imaginar-se num carrossel equivalha ao desejo de ser o centro das atenções, se enganam. Estamos lá porque a aventura existe, afinal ele dá voltas, ele sobe, desce, dá um friozinho na barriga! Tentamos ver quem está do lado de fora e não conseguimos, porque ele gira e gira e a nossa mente parece girar mais lentamente e toda imagem se embola num emaranhado de luzes.


A gente até tenta seguir a velocidade do giro com o olhar pra tentar fixar numa pessoa só, mas não dá.


Então os que estão no carrossel desistem dos que estão lá fora. No fundo a gente sabe que eles estão se divertindo com outras coisas, com outros brinquedos, com o conversê daquela pessoa que está ao seu lado enquanto rodamos e rodamos feito peão!


O que a gente faz?


A gente fecha os olhos, solta o corpo, e tenta sentir a vibração, o giro, o ar passando pelos nossos ouvidos fazendo cócegas no pescoço e levando os cabelos pro alto, de leve, indo e vindo... As mãos a gente aperta no bastão, ou no que der pra segurar, pra não cair do carrossel enquanto ele continua a girar. A boca seca e sente o ar que entra, e o sorriso plantando-se no rosto.


Até que a música para e tudo se apaga.


Daí outra música começa a tocar dentro da minha cabeça, e ela começa assim:


"Onde é que fui parar? Aonde é esse aqui?
 Não dá mais pra voltar? Porque eu fiquei tão longe?"


Fazer o quê? 


As ilusões da vida são assim. Por mais tolas que pareçam ser, elas sempre terão um grande significado pra você. Não importa se estou a cavalgar sozinha no cavalo, ou sentada do lado esquerdo da carruagem sentindo o vazio do lado direito. A sensação de subir e descer será a mesma, e eu vou sempre me sentir encoberta de luzes, enquanto não descer disso aqui. E na consciência aquela voz sábia a repetir: "você quis o brinquedo mais seguro, contente-se com isto".
 
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